terça-feira, 15 de maio de 2012

Mais um protesto urbano
















Sempre fui politicamente incorreto, inconveniente e muito chato. Dito isto, e usando tais prerrogativas, permito-me abandonar a "razão histórica", o "prisma social" e o sentimento de "preservação da memória coletiva", para uma observação que, certamente, pintará mais um alvo na minha testa: não entendo como as pessoas continuam dirigindo seus carros ou utilizando os coletivos mal-conservados e calorentos nestes engarrafamentos mostruosos da cidade do Recife e, ainda assim, se metem a empunhar bandeiras "heróicas" contra a abertura de novas vias ou a ampliação de algumas já existentes.


Há algumas semanas assisti - (quase) em silêncio respeitoso - à uma mobilização contra a construção de prédios "para gente rica" naquele Cais José Estelita. Um local abandonado por Deus e por sucessivos governantes, onde a gente torce para o carro não quebrar ou para o ônibus não dar pau, sob o risco de ser assaltado pelos cracoleiros, única população vivente por ali além dos vira-latas. Foi uma campanha e tanto aquela! Não sei se vocês ainda lembram...

Agora, ouço uma chiadeira danada porque cortaram um pedaço de calçada numa praça do nobre e elegante bairro do Parnamirim para que seja ampliado um pedaço da avenida, numa tentativa - meio amadora, é verdade - de amenizar a total inércia do tráfego que acontece ali diariamente, e não mais apenas nas horas do rush.

Não se falou em suprimir a praça. Retiraram um pedaço da calçada, vejam bem. Eu mesmo só notei quando vi o cascalho solto na rua. Mas... beleza. Uma praça é sempre uma praça. O que será dos nossos filhos sem elas? Que futuro esperar de uma cidade feita só de espigões e avenidas?
Bom, atrevo-me a sugerir algumas alternativas.

Para os mais abastados e bem afortunados na vida, talvez uma boa saída seja o Aeroporto-dos-Guararapes-Gilberto-Freyre (Ainda queria saber quem danado sugeriu essa "homenagem").

Já para os menos favorecidos - mas que, nem por isso, deixam de se queixar do "progresso desvairado", sugeriria como saída a BR 232, que leva ao bucólico interior do Estado.

Que tal morar numa cidadezinha daquelas, sem barulho, sem trânsito, sem vias largas, sem edifícios altos, sem violência... Mas também sem cinemas, sem teatros, sem shoppings, sem bons restaurantes, sem parques, sem o Bar Central, sem a Fundarpe (pra dar entrada naqueles roteiros dos cuuurrrtas), sem o Cinema da Fundação...

Difícil, né?

Mas pense nisso com carinho quando tiver tempo, quem sabe amanhã cedinho, quando estiver atrasado pro trabalho, preso em mais um engarrafamento gigantesco desse nosso atrasado Recife.