Eu tinha 17 anos e ajudava a galera ali nos bastidores do saudoso “Circo Voador”. Para quem esqueceu, ou nunca ouviu falar, era uma área ao ar livre que ficava ali no Cais do Apolo, por onde passaram várias atrações nacionais e internacionais. Desde o Legião Urbana e dos Paralamas até o “Patrulha do Bairro”, carinhoso apelido que botamos no Police sem Sting, que tinha no baixo o virtuoso Stanley Clarke.
Pois bem, numa noite dessas, há vinte e cinco anos atrás, aterrissaram por lá oito jovens malucos, para mostrar as músicas do seu novo “LP”, o Cabeça Dinossauro. Quem estava nos bastidores, pode testemunhar a descontração dos caras antes do show, brincalhões, zoeiros e meio “nem aí” pra multidão que os aguardava em frente ao palco. Mas quem estava na platéia, provavelmente não esqueceu o show.
Ontem à noite, um quarto de século depois daquela apresentação memorável, quatro dos oito malucos do Circo Voador voltaram ao Recife para reprisá-la. Dessa vez, no palco do Baile Perfumado. Um ambiente menor, mas fechado e com uma qualidade de som bem melhor.
E foi como voltar no tempo. Desde a abertura, com o ritmo primal da faixa-título dando pancada no estômago da galera, que reagiu com a fúria esperada. Na segunda música, “AA UU”, todo mundo explodiu, pulando que nem doido. E o disco veio vindo, na ordem de gravação: “Igreja” foi cantada por todos, agora sem aquele preconceito besta que alguns tinham há vinte e cinco anos. “Polícia” foi outro cacete, com Sérgio Britto instigando a galera, que improvisou até roda de pogo em frente ao palco.
A seguir, veio a minha preferida de todo o álbum, “Estado Violência”,
única composta pelo batera Charles Gavin – nesse show substituído à
altura por Mário Faber – e aquele fantástico riff de baixo composto por
Nando Reis (que também não veio) e executado com perfeição por Branco
Mello.
Em “A face do destruidor” não aguentei e me joguei na roda de
pogo. E foi de lá que ouvi a levada rápida de “Porrada”, pra depois dar
uma respirada em “Tô cansado”. O público novamente foi ao delírio com
“Bichos Escrotos”, maior riff do disco cantado a plenos pulmões pela
galera. A banda só ouvia e sorria. E vieram “Família”, “Homem primata” e
“Dívidas”, fechando o set com “O quê”.
Depois
daquele tiroteio sonoro, nem precisava de mais. Já dava pra voltar pra casa
feliz. Mas os caras fizeram uma pausa e voltaram, com uma mala cheia de
clássicos da banda. Rolaram músicas novas e antigas. Entre elas, “A melhor
banda dos últimos tempos...”, a porrada de “Vossa excelência”, “Flores”, “Lugar
nenhum”, “Aluga-se” (de Raul Seixas), “Nem sempre se pode ser Deus”,
“Diversão”, “O pulso” e a fantástica “Televisão”.
Com o público
enlouquecido, mas absolutamente sob seu controle, a banda ainda voltou
para um segundo bis, fechando o show com “Marvin” e “Sonífera ilha”.
Para os mais jovens, que viram tudo pela primeira vez, deve ter sido bom
demais. Já para os velhinhos, como eu, só resta agradecer aos
igualmente velhinhos Paulo Miklos, Branco Mello, Sérgio Britto e Tony
Bellotto pelo que fizeram – e vem fazendo – há mais de trinta anos: puro
rock and roll, com selo nacional.