quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O ano do cachorro louco















Nasci no mês do cachorro louco. E quem me conhece, sabe que não poderia ter escolhido data melhor. Adoro agosto, e tudo que vem com ele: chuva, frio, o cinza “celestial” e a insanidade que parece tomar conta das pessoas.

Em agosto, todo mundo fica mesmo meio diferente. É uma sensação de inquietude que começa, ainda meio imperceptível, nos estertores de julho, e só termina às vésperas do verão, em meados de setembro. Dizem que é o período do mau humor, quando há mais brigas, mais depressões e suicídios. Até mais divórcios.


E eu digo: é, sim, mera rotulação. Agosto foi transformado de vítima em algoz. Vai ver que é porque rima com “desgosto”, “encosto”, “deposto” e outras tantas palavras baixo astral. Fosse outro mês que viesse em seu lugar nessa época do ano, as rimas estavam todas perdidas e quem sabe não falavam tão mal.


Até porque, não é assim no mundo todo. Norte-americanos e europeus, por exemplo, também têm o seu mês do cachorro louco. E é abril. Nome para o qual cabem tantas outras rimas, algumas inclusive impronunciáveis num texto como este. Não por coincidência, abril encerra o período cinza-invernal lá por cima, e prenuncia a primavera de maio no hemisfério norte.


Dito isto, quero deixar registrado meu protesto em defesa do melhor período do ano. Antes de rotularem agosto como o mês das fatalidades, pensem na quantidade de mortes, tragédias e histórias tristes que aconteceram ao longo de todo 2014. Tivemos outros sete meses este ano, meus amigos. E em todos eles, o negócio foi meio punk. Ou não foi?


Senão, vejamos. Um clique rápido no pai-dos-burros virtual – a wikipedia – revela uma média de trinta “notáveis” mortos a cada mês deste ano. Tá com preguiça de checar? Aí vão alguns deles: Nelson Ned, Eduardo Coutinho, Sérgio Guerra, Bellini, José Wilker, Luciano do Valle, Mãe Dinah, Jair Rodrigues, Plínio de Arruda Sampaio, João Ubaldo Ribeiro, Norberto Odebrecht e Ariano Suassuna.


É um verdadeiro sortimento. E de áreas bem diferentes da cultura, política, economia, esportes. Sabe quantos deles se foram em agosto? Nenhum. Segui um roteiro –meio macabro, é verdade – e me limitei aos brasileiros. Dá uma média de dois “famosos” por mês. Mas se cutucar na internet, surgirão muitos outros, de várias nacionalidades, vitimados pelo cruel ceifador de 2014.


E isso porque, para evitar maiores dramas, deixei de fora tragédias coletivas, tipo quedas de avião, incêndios, desabamentos, tsunamis, terremotos, atentados terroristas e crimes de guerra. Nenhum deles registrado em agosto.


E aí? Que tal deixar meu cachorrinho em paz?